Friday, March 16, 2007

dove sta la memoria

não acho que a imagem abstracta seja «deus» e que haja a necessidade apocaliptica de uma «última pintura» que se possa repetir endlessly - gostei no final dos anos 80 do acasalamento que Gerhard Merz fez entre Ad Reinhardt e a literatura de Alberto Savinio (entre outros) - as solicitadas (por uma dama) e intelectuais questões de amor de Guido Cavalcanti levavam a citar-lhe a celebre questão «dove sta la memória» (via Ezra Pound?). A memória está cada vez menos presente na arte, a não ser como encenação historicista com vista a um rápido consumo massivo - esse papel têm-no desempenhado bem os museus, mas as retrospectivas, que trazem «mais luz» são falsas porque procuram sempre mais do que os links do «artista».
a memória é o que se enterlaça com a forma - a arte abstracta não se desvincula da memória, mas é, pelo contrário, como o mostrou em primeiro lugar Frances Yates, um instrumento priveligiado da «arte da memória». A arte abstracta sempre «representa» uma vez que é nela que está a memória, sejam as memórias estritamente pessoais, seja a memória das formas que antecedem essa forma, seja a memória do «menos diminuto» (termo que substituiria ao controverso «absoluto»). Não é o silêncio, o inefável, ou a sua presença de que falam as obras «abstractas», mesmo o «be» (e outros casos de Barnet Newman), o aqui, uma inequivoca chamada a uma firme imediatez, é também um manifesto pelo crescimento, um apelo aumentativo que é a meu ver a «memória». O onde onde está a memória.

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